Acordo de paz não acalma protestos no Sudão e cristãos continuam perseguidos
O mais recente acordo de paz feito no Sudão, no dia 5 de dezembro, foi rejeitado pelo povo nas ruas de Cartum, capital do país, que sofreu um golpe militar em outubro de 2021.
Os manifestantes exigem a destituição dos governantes militares e rejeitam o acordo assinado entre os líderes do golpe e uma facção do antigo bloco civil e diversos outros aliados.
A liderança do movimento está nas mãos do Comitê de Resistência — grupo de base que rejeita qualquer negociação com os líderes militares do Sudão, os generais Abdel-Fattah Burhan (presidente) e Mohammed Hamdan Dagalo (vice-presidente).
O objetivo do povo com o protesto é que ambos, tanto Burhan quanto Dagalo, sejam julgados no tribunal. Forças de segurança usaram gás lacrimogêneo e mangueiras de água contra os manifestantes, mas não houve relatos de vítimas.
Entenda a questão do golpe de Estado
Enquanto o Sudão passava pelo processo de transição democrática, iniciado em 2019, o exército do país deteve dezenas de funcionários do governo e políticos — o que ficou conhecido como o golpe de Estado de 2021.
A dissolução do governo de transição foi liderada pelo general Abdel Fattah al-Burhan, que declarou estado de emergência. Organizações da sociedade civil convocaram manifestações nas ruas, que acabaram na morte de 41 pessoas, conforme registros oficiais. Notícias da BBC falam na morte de pelo menos 119 civis.
Burhan assinou um acordo de paz e os prisioneiros políticos foram libertados, alguns reassumindo seus cargos. Os militares sudaneses entraram no acordo de transição e partilha de poder, motivados pela pressão de órgãos internacionais e regionais.
A relação entre a ala militar e civil começou a se deteriorar significativamente já em 2021, quando a indisposição das lideranças militares se intensificou diante do que descreveram como uma incompetência da ala civil em reestruturar o Estado e garantir efetividade às instituições.
Sobre a fragilidade dos acordos de paz
O último acordo de paz no Sudão, assinado em agosto de 2020, após 17 anos de guerra (sob o governo de Omar Hassan Ahmad al-Bashir), foi bem recebido por parceiros internacionais do Sudão. Mas, oferece apenas contornos muito amplos de como o país fará sua retomada para a democracia.
A questão da reforma no Exército e uma política que promete ver várias facções armadas do país integradas em uma única força de combate, não são assuntos bem resolvidos ainda.
Um Conselho Soberano foi formado por civis e militares para supervisionar a transição política, mas ninguém sabe como será equilibrado o poder entre eles. Segundo o acordo, um exército reformado fará parte de um “conselho de defesa e segurança” supervisionado por um novo primeiro-ministro.
Comentaristas levantaram alguns questionamentos, como por exemplo: “Os militares realmente cumprirão sua promessa? Futuras negociações para um acordo mais inclusivo são esperadas.
Novo acordo de paz em 5 de dezembro de 2022
Os líderes do golpe no Sudão e o principal grupo pró-democracia assinaram um acordo no dia 5 de dezembro para estabelecer um governo de transição liderado por civis após o golpe militar no ano passado.
No entanto, atores importantes para as negociações de paz não participaram do encontro e nenhum prazo foi definido para o início da transição, de acordo com o G1.
A estrutura do acordo, que foi assinada pelo presidente Burhan e seu vice Dagalo, e pelos líderes das Forças pela Declaração de Liberdade e Mudança, parece oferecer apenas as linhas gerais de como o país retomará sua progressão para a democracia.
Não está claro com que rapidez o acordo assinado pode oferecer uma saída para o Sudão, uma vez que parece deixar muitas questões importantes sem solução e não tem o apoio de forças políticas importantes, incluindo os Comitês de Resistência pró-democracia de base. Os líderes dessa rede, inclusive, convocaram manifestações contra o acordo.
Como fica a situação dos cristãos sudaneses?
De acordo com a Portas Abertas, a situação dos cristãos que vivem no Sudão teve uma melhora em 2019, pois o governo mudou a política que considerava os cristãos inimigos e agentes do Ocidente.
No entanto, existem questões sistemáticas que ainda afetam aqueles que se decidem pelo cristianismo. Embora a política governamental tenha mudado, as atitudes sociais em relação aos seguidores de Jesus não mudaram, especialmente fora da capital Cartum.
A cultura e a sociedade ainda são de maioria muçulmana e desconfiam de qualquer outra religião que não seja a islâmica. O governo também não implementou proteções reais para os cristãos e outras minorias religiosas.
Por exemplo, mesmo com a mudança no status oficial, as igrejas e as terras confiscadas ainda não foram devolvidas aos proprietários cristãos. Tentar construir novas igrejas ainda é extremamente difícil e ainda existem líderes militares de alto nível que retardam as reformas.
Resumindo, o nível de perseguição à Igreja continua alta no Sudão. Mesmo depois da descriminalização da apostasia e a suspensão da demolição de igrejas, várias injustiças continuam acontecendo com os cristãos.
E qual a expectativa de futuro para quem se decide por Cristo? O que se pode ver é que igrejas no Sudão estão sendo incendiadas e os cristãos sendo vítimas de violência física. Muitos observadores duvidam que o governo irá proteger as minorias. Os cristãos ainda correm riscos significativos no país que ocupa o 13º na Lista Mundial da Perseguição 2022.