Dia do Evangélico: como o protestantismo mudou o cenário religioso no Brasil
O Dia do Evangélico é celebrado em todo o País nesta quarta-feira, 30 de novembro. O que antes era um movimento minoritário, hoje se tornou consolidado no Brasil: os evangélicos podem se tornar maioria da população na década de 2030.
Dados do censo do IBGE mostram que, em 1980 os católicos eram 89,9%, e os evangélicos, 6,6% da população brasileira. Já no último censo de 2010, havia 64,6% (125 milhões) de católicos e 22,2% (42 milhões) de evangélicos.
Embora não haja dados recentes do censo, um estudo do demógrafo José Eustáquio Alves, professor aposentado da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE, indica que o número de evangélicos deve ultrapassar o de católicos pela primeira vez a partir de 2032.
De acordo com o especialista, o número de brasileiros evangélicos tem crescido em média 0,8% ao ano desde 2010, enquanto a quantidade de católicos tem diminuído 1,2% no mesmo período.
Se essa tendência continuar, cada uma das duas religiões devem corresponder a cerca de 40% da população em 2032, ou seja, em torno de 90 milhões cada uma. Portanto, se a curva se mantiver, a partir daquele ano os evangélicos devem se tornar maioria no Brasil.
“Estamos vivendo uma transição religiosa nos últimos anos”, disse Eustáquio Alves, que faz a mesma avaliação para todos os países da América Latina, informa a Veja.
Outros institutos de pesquisa também confirmam a tendência. Um estudo feito pelo Pew Research Center entre 2013 e 2014 indicou que os evangélicos eram 26% da população brasileira. No fim de 2014, o Instituto de Pesquisa Datafolha apontou que os protestantes já seriam 29% da população.
Movimento evangélico no Brasil
O protestantismo chegou ao Brasil no período colonial, com as tentativas francesas e holandesas de se firmarem no país. Os evangélicos costumam ser classificados em três grupos distintos:
– Os protestantes históricos, que incluem as igrejas Luterana, Batista, Presbiteriana, Metodista, Episcopal, entre outras;
– Os evangélicos pentecostais, com igrejas como Assembleia de Deus, Deus é Amor, Evangelho Quadrangular, Congregação Cristã do Brasil, entre outras;
– E os evangélicos neopentecostais, que inclui denominações como Renascer em Cristo, Igreja Universal do Reino de Deus, Sara Nossa Terra, Igreja Internacional da Graça de Deus, Renascer em Cristo, Igreja Batista da Lagoinha, Igreja do Nazareno, Bola de Neve Church, entre outras.
O movimento pentecostal e neopentecostal têm um grande papel na expansão do evangelicalismo no Brasil, especialmente a partir do início do século 20. Essa expansão é dividida em três ondas, disseram especialistas à BBC News.
Imagem de culto da Igreja Assembleia de Deus. (Foto: Jackson Samuel Costa/Unsplash)
As 3 ondas das igrejas evangélicas
A primeira onda foi em 1911, quando os missionários suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg, que aportaram em Belém (PA) vindos dos Estados Unidos, fundaram a Assembleia de Deus no país.
O trabalho dos missionários começou em Belém direcionado aos indígenas, mas acabou se expandindo. Hoje, a Assembleia de Deus é a maior denominação pentecostal em número de fiéis, reunindo cerca de um terço dos evangélicos.
A segunda onda pentecostal ganhou força nos anos 1950 e 1960 por meio de denominações como Brasil para Cristo e Deus é Amor. Já a terceira onda, a partir dos anos 1970, está mais ligada ao neopentecostalismo.
Segundo estimativa do Datafolha em 2016, a cada 100 evangélicos no Brasil, 34 são da Assembleia de Deus e 17 são de igrejas que não pertencem a nenhuma grande denominação — e que, provavelmente, são neopentecostais. E a cada 100 evangélicos, 44 são ex-católicos.
No Brasil, a maioria dos evangélicos são mulheres, negros e jovens. Segundo dados do Datafolha de 2020, 58% dos evangélicos são mulheres, 59% são pretos ou pardos e mais de 60% têm entre 14 e 44 anos.
Mulheres se abraçam na Igreja Batista Atitude, Rio de Janeiro. (Foto: Yuri Figueiredo/Unsplash)
Influência dos evangélicos na sociedade
Assim como os evangélicos têm se expandido em número, têm também aumentando sua influência política e social, especialmente nas últimas décadas.
Um dos fatores que contribuiu com isso foi a mudança de um paradigma teológico: a Igreja já não deveria apenas se afastar das coisas seculares, como a política e a educação, mas sim expandir o Reino de Deus para todas as esferas sociais.
De forma geral, a atuação das igrejas evangélicas resultam em melhorias nas condições de vida dos brasileiros mais pobres, por uma série de fatores. Muitos novos convertidos abandonam práticas do vício em álcool e drogas e, consequentemente, da violência doméstica. Muitos casamentos e famílias são restauradas e assim, há um fortalecimento da autoestima e da disciplina para o trabalho.
Além disso, as igrejas evangélicas incentivam a educação, cuidados com a saúde, conforto emocional e o apoio entre irmãos, nos momentos de dificuldade financeira.