Festa de Tabernáculos,  festa judaica,  getúlio cidade,  gospel,  Israel,  sukkah

Festa de Tabernáculos e seus significados para os cristãos


Festa de Tabernáculos e seus significados para os cristãos

Entre os dias 10 e 16 de outubro de 2022, celebra-se a Festa de Tabernáculos, uma das três grandes Festas anuais ordenadas por Deus a Moisés para o povo de Israel, conforme Levítico 23:33-44. Durante sete dias, de 15 a 21 do mês sagrado de Tishrei, o povo deveria habitar em pequenos tabernáculos ou tendas como memória de seus antepassados que viveram em tendas durante a travessia do deserto do Sinai. Isso é cumprido até hoje por ser um “estatuto perpétuo” por todas as gerações.

Esse pequeno tabernáculo, cabana ou tenda, é chamada em hebraico de sukkah. É uma armação frágil feita de folhas e ripas de madeira, cobertas com galhos de plantas e árvores como a palmeira, normalmente com três lados fechados e um aberto. O mandamento de viver em tendas é seguido passando-se a maior parte do tempo dentro da sukkah. Nela os parentes e convidados são recebidos, compartilham-se refeições, conversas e orações, enfim, desfruta-se de tudo o que se faz em uma casa ou apartamento com a família e com os amigos. A diferença é que tudo é bem simples.

O motivo de tudo ser simples em uma sukkah é que sua estrutura é rústica e elementar. Não há sofisticação nem luxo, tampouco, proteção. Está exposta ao calor, frio, vento, chuva e a todo tipo de intempérie climática. Os galhos que servem de cobertura devem ser dispostos de modo a deixar pequenas aberturas para que se possa olhar o azul do céu, de dia, e as estrelas à noite. Tudo isso é para trazer a pessoa para um maior contato com a natureza e fazê-la lembrar que seus antepassados viveram assim, de modo simples e humilde.

Outro objetivo da sukkah é aproximar as pessoas. Isso ocorre naturalmente porque seu espaço é bem reduzido comparado ao de uma casa ou apartamento. Ademais, não há as facilidades da tecnologia como TV e Wi-Fi, nem locais compartimentados como os quartos de uma casa, por exemplo. Todos compartilham o mesmo espaço, a mesma comida, a mesma conversa, a mesma alegria, enfim, compartilham da mesma vida. É um tempo muito especial, pois descobre-se que é possível viver com pouco, ao passo em que se enfatiza a importância do relacionamento entre pessoas próximas, algo tão escasso no mundo apressado de hoje.

O significado da sukkah

Por ser uma estrutura frágil, a sukkah aponta para nossa consistência humana, de carne e osso. Chegamos a esse mundo habitando um corpo frágil, sujeito a tantos riscos de males e doenças, bem como perigos diversos que atravessamos ao longo da jornada. Somos também sujeitos às intempéries da alma que podem ser traduzidas por tentações, tribulações e todo tipo de sofrimento psíquico inerente ao ser humano.

De igual modo, por ser uma estrutura transitória — é impossível habitar na mesma sukkah por muito tempo, uma vez que se deteriora rapidamente —, ela nos relembra de que o que é visível e físico é passageiro. Muitas vezes, se passa tanto tempo preocupando-se com o exterior — a aparência e o corpo físico — e esquece-se do interior, daquilo que mais importa por ser eterno. Por esse motivo, assim como a cobertura de galhos da sukkah, precisamos ter aberturas interiores que nos façam olhar para o céu, para o Deus Todo-Poderoso que nos criou, a fim de lembrar que Ele governa sobre nós, bem como buscar compreender e viver seu propósito para nossas vidas.

Como a sukkah logo se desfaz, assim se dá com a carne que “para nada serve” e que não subsiste perante a eternidade. A sukkah é especial por causa das pessoas que estão em seu interior. Elas são sua alma e seu espírito. Do mesmo modo, o corpo exterior não é o que importa; toda sua beleza é como a flor do campo que logo seca, como descreveu Isaías. O que importa é o que está dentro do coração. Como definiu Saint-Exupéry, “o essencial é invisível aos olhos”. É para o interior que Deus olha e nos julga.

Ele “tabernaculou” entre nós

Sabendo que o que mais importa em uma sukkah são as pessoas em seu interior, assim como o coração — invisível para os homens, mas visível para Deus —, entendemos que nosso relacionamento com o próximo é crítico para Ele. Deus enviou seu Filho não apenas para nos salvar, mas para abrir o caminho através do véu — sua carne rasgada por nossos pecados como sacrifício supremo. Deus não gosta de véus, nem de barreiras que nos separem e, por isso, deu-nos acesso a Ele para desfrutarmos de livre comunhão consigo.

O discípulo amado afirma que “o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (João 1:14). A palavra “habitou” no original grego significa “erguer uma tenda ou um tabernáculo”, e equivale, no hebraico, a montar uma sukkah. Logo, uma versão mais fiel seria dizer que Yeshua “tabernaculou” entre nós.

Portanto, nosso Messias deixou sua glória, tomou a forma de sukkah em nosso meio e, em sua breve passagem por aqui, ensinou-nos algo que é tão importante para o Pai, como nosso relacionamento com Ele. E isso é o relacionamento com nosso próximo. Foi o que Ele mais valorizou, relacionando-se, tocando e transformando a vida de todos os que cruzaram seu caminho. Que possamos seguir seu modelo. Esse é um dentre os muitos significados para os cristãos da Festa de Tabernáculos.

Getúlio Cidade é escritor, tradutor e hebraísta, autor do livro A Oliveira Natural: As Raízes Judaicas do Cristianismo e do blog de mesmo nome.

* O conteúdo do texto acima é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

Leia o artigo anterior: Yom Kippur e seus simbolismos

 

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.

Damos valor à sua privacidade

Nós e os nossos parceiros armazenamos ou acedemos a informações dos dispositivos, tais como cookies, e processamos dados pessoais, tais como identificadores exclusivos e informações padrão enviadas pelos dispositivos, para as finalidades descritas abaixo. Poderá clicar para consentir o processamento por nossa parte e pela parte dos nossos parceiros para tais finalidades. Em alternativa, poderá clicar para recusar o consentimento, ou aceder a informações mais pormenorizadas e alterar as suas preferências antes de dar consentimento. As suas preferências serão aplicadas apenas a este website.

Cookies estritamente necessários

Estes cookies são necessários para que o website funcione e não podem ser desligados nos nossos sistemas. Normalmente, eles só são configurados em resposta a ações levadas a cabo por si e que correspondem a uma solicitação de serviços, tais como definir as suas preferências de privacidade, iniciar sessão ou preencher formulários. Pode configurar o seu navegador para bloquear ou alertá-lo(a) sobre esses cookies, mas algumas partes do website não funcionarão. Estes cookies não armazenam qualquer informação pessoal identificável.

Cookies de desempenho

Estes cookies permitem-nos contar visitas e fontes de tráfego, para que possamos medir e melhorar o desempenho do nosso website. Eles ajudam-nos a saber quais são as páginas mais e menos populares e a ver como os visitantes se movimentam pelo website. Todas as informações recolhidas por estes cookies são agregadas e, por conseguinte, anónimas. Se não permitir estes cookies, não saberemos quando visitou o nosso site.

Cookies de funcionalidade

Estes cookies permitem que o site forneça uma funcionalidade e personalização melhoradas. Podem ser estabelecidos por nós ou por fornecedores externos cujos serviços adicionámos às nossas páginas. Se não permitir estes cookies algumas destas funcionalidades, ou mesmo todas, podem não atuar corretamente.

Cookies de publicidade

Estes cookies podem ser estabelecidos através do nosso site pelos nossos parceiros de publicidade. Podem ser usados por essas empresas para construir um perfil sobre os seus interesses e mostrar-lhe anúncios relevantes em outros websites. Eles não armazenam diretamente informações pessoais, mas são baseados na identificação exclusiva do seu navegador e dispositivo de internet. Se não permitir estes cookies, terá menos publicidade direcionada.