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Maria Madalena: uma mulher liberta que se destacou na sociedade de sua época


Maria Madalena: uma mulher liberta que se destacou na sociedade de sua época

“Jesus ia passando pelas cidades e povoados proclamando as boas novas do Reino de Deus. Os doze estavam com ele, e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e doenças: Maria, chamada Madalena, de quem haviam saído sete demônios…” (Lucas 8.1-2)

Quem foi Maria Madalena?

Em primeiro lugar, vale ressaltar que Maria Madalena não era “prostituta” como muitos pensam. Mas, o que a Bíblia diz sobre ela? Porque há tantas lendas a respeito dessa mulher?

A Maria Madalena da Bíblia não tem nada a ver com a mulher idealizada no filme Código Da Vinci. A Bíblia conta uma história real e o filme conta uma ficção. Maria também não é a mesma mulher dos livros seculares que atribuem a ela certos rótulos como: companheira de Jesus, santa, prostituta e ícone feminista.

Como disse o rei Salomão, em Eclesiastes 12.12: “Não há limite para a produção de livros”. Por isso, é preciso cautela ao estudar a Bíblia. Perceba que a verdadeira história de Maria Madalena se perdeu em uma miscelânea de representações, envolvendo até teoria da conspiração e o movimento feminista deste século.

A “Maria Madalena” da Bíblia

A Bíblia cita Maria Madalena ou Maria de Magdala por volta de doze vezes. De quem exatamente estamos falando? A Maria, que morava em Magdala, ficou popularmente conhecida [erroneamente] como “uma prostituta transformada” — a famosa “Madalena arrependida”, que serve de exemplo para muitos pecadores. Mas há muito folclore sobre ela.

Provavelmente, Maria Madalena era solteira e não tinha filhos. Estudiosos chegaram a essa conclusão porque naquela época, as mulheres eram associadas a seus maridos e filhos e os nomes deles funcionavam como um sobrenome para elas.

Por exemplo: Joana, mulher de Cuza, administrador da casa de Herodes (Lucas 8.3) ou Maria, mãe de Tiago e de José (Mateus 27.56).

Quando a mulher era solteira, normalmente, era identificada com o nome da cidade natal ou onde estava vivendo. Identificar as pessoas assim era um costume daquela época.

Percebemos pela forma como o próprio Jesus foi identificado, apesar de ter nascido em Belém, era conhecido como Jesus de Nazaré, cidade onde viveu.

Sobre Magdala

Atualmente, o local é um dos sítios arqueológicos mais importantes dos últimos 50 anos para a arqueologia bíblica, justamente porque ali viveu essa misteriosa seguidora de Jesus — a Maria Madalena.

Sítio arqueológico, cidade de Magdala. (Divulgação/Marcela Zapata Meza)

O nome Magdala pode ter duas origens, segundo o arqueólogo Rodrigo Silva: “Pode vir do aramaico magdalah que significa ‘grandioso’ ou, literalmente, ‘grande lugar’, mas pode vir do hebraico maghdal que significa ‘torre’ ou ‘farol’”, explicou.

Embora ainda não tenham sido encontradas evidências de algum farol existente em Magdala, o termo talvez tenha alguma conexão com o mar da Galileia, vizinho da cidade.

O arqueólogo conta que aquela região era conhecida como o local onde se salgava o peixe. “Logo, é de se presumir que havia uma grande indústria pesqueira ali, que era uma fonte de renda próspera”, disse.

É dentro desse contexto que devemos entender a promessa de Jesus: “Eu farei de vocês pescadores de homens”.

Outro fato interessante é que Magdala também foi o reduto e o quartel general do líder e governador da Galileia — o judeu Flávio Josefo — que mais tarde tornou-se historiador e escreveu um grande tratado da história dos judeus.

Magdala, centro de reunião dos rebeldes

No tempo da grande revolta judaica (66 a 73 d.C.), que teve como consequência a destruição de Jerusalém, do Templo e da fortaleza de Massada — que era o grande orgulho da arquitetura de Herodes — Magdala foi um centro de reunião para os rebeldes.

De acordo com o testemunho histórico de Josefo, aqueles que desafiavam Roma, encontraram ali um refúgio. Esses rebeldes não eram cidadãos da cidade de Magdala, mas pessoas de várias regiões que ali se reuniam.

Rodrigo Silva conta que, segundo a história, em 67 d.C. forças romanas comandadas por Vespasiano sitiaram Magdala, que testemunhou uma terrível carnificina. Todos os moradores morreram pelas mãos dos romanos e a cidade nunca mais se restabeleceu, ficando deserta e esquecida por quase dois mil anos.

Sítio arqueológico de Magdala

No ano de 2020, comemorou-se os 10 anos das escavações em Magdala. A arqueóloga mexicana, Marcela Zapata Meza, diretora do projeto em Israel — que também colaborou com este estudo — comentou que essa suposição de Maria Madalena ter sido prostituta não deve passar de uma lenda.

Os achados arqueológicos evidenciam um cotidiano próspero daquela cidade. Marcela sugere que Maria Madalena poderia ter pertencido a uma família com possibilidades econômicas, com condições de suprir todas as suas necessidades.

Logo, ela não teria motivo de se entregar a uma vida de prostituição para sua sobrevivência. A própria Bíblia a identifica como uma das mulheres que ajudavam a sustentar Jesus e os seus discípulos.

“Essas mulheres ajudavam a sustentá-los com os seus bens.” (Lucas 8.3)

A arqueóloga deu uma sugestão sobre o que realmente teria chamado a atenção da sociedade para Maria Madalena: “Naquela época, as mulheres não se destacavam, e ela se destacou. Quando conheceu Jesus teve sua vida transformada e ousou segui-lo até nos momentos mais difíceis. Ela confrontou homens e mulheres para mostrar que a vida tinha um sentido maior, valor e dignidade”.

Por tudo isso, concluímos que não há relatos bíblicos e nem evidências arqueológicas de que Maria Madalena teria sido uma prostituta.

 

Pecadora e endemoninhada

Os termos “pecadora” ou até mesmo “endemoninhada” não se limitavam a pecados sexuais. Também é importante considerar que uma mulher sem filhos, doente ou abandonada seriam igualmente consideradas pecadoras ou impuras diante das leis de purificação do judaísmo antigo.

Quanto ao pecado sexual, as mulheres assediadas ou até estupradas, naquela época, eram relacionadas ao pecado de adultério, mesmo sendo as vítimas.

Em nosso texto de estudo (Lucas 8.1-2), diz que Maria Madalena estava entre as mulheres curadas de espíritos malignos e doenças, e que dela saíram sete demônios.

Em nenhum momento a palavra “prostituta” foi citada. Rodrigo Silva acredita que a condição de Maria Madalena estava muito mais ligada às questões espirituais.

Por isso, é preciso ter muita cautela ao tentar interpretar a Bíblia a partir de filmes e novelas que influenciam a mente, distorcendo e corrompendo o que dizem as Escrituras.

Confusão entre as Marias

Maria Madalena e a mulher adúltera — alguns estudiosos fazem ligação entre as duas mulheres, como se a mulher que quase foi apedrejada por adultério fosse Maria Madalena. Segue o texto bíblico:

“Os mestres da lei e os fariseus trouxeram-lhe uma mulher surpreendida em adultério. Fizeram-na ficar em pé diante de todos e disseram a Jesus: Mestre, esta mulher foi surpreendida em ato de adultério.” (João 8.3-4)

Nada nesse texto relaciona a mulher considerada adúltera, que provavelmente era casada, com Maria de Magdala.

Maria Madalena e a pecadora que chora aos pés de Jesus — os textos de Lucas 7 e João 12 ilustram uma cena bem parecida.

Texto de Lucas

“Ao saber que Jesus estava comendo na casa do fariseu, certa mulher daquela cidade, uma ‘pecadora’, trouxe um frasco de alabastro com perfume, e se colocou atrás de Jesus, a seus pés. Chorando, começou a molhar-lhe os pés com as suas lágrimas. Depois os enxugou com seus cabelos, beijou-os e os ungiu com o perfume.” (Lucas 7.37-38)

Lucas fala de uma “pecadora”, que segundo o pastor e hebraísta Luiz Sayão, neste caso, pode se tratar mesmo de uma prostituta. O episódio ocorre na casa de um fariseu e não especifica data.

Texto de João

“Seis dias antes da Páscoa Jesus chegou a Betânia, onde vivia Lázaro, a quem ressuscitara dos mortos. Ali prepararam um jantar para Jesus. Marta servia, enquanto Lázaro estava à mesa com ele. Então Maria pegou um frasco de nardo puro, que era um perfume caro, derramou-o sobre os pés de Jesus e os enxugou com os seus cabelos. E a casa encheu-se com a fragrância do perfume.” (João 12.1-3)

João fala de Maria, irmã de Lázaro e Marta. O episódio ocorre na casa de Lázaro, na cidade de Betânia, seis dias antes da Páscoa

Pelas divergências nas informações, é muito provável que sejam mulheres diferentes. Além disso, Sayão reforça que o texto em Lucas 8.2 faz menção, pela primeira vez, de “Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios.”

O professor explica que “não há qualquer fundamento bíblico para considerá-la como a prostituta arrependida dos pecados e que pediu perdão a Cristo; também não há menção de que tenha sido prostituta”.

Conclusão

Seja como for, Maria Madalena foi uma mulher citada na Bíblia por seu intenso amor a Cristo, tornando-se sua seguidora e recebendo o privilégio de ser a primeira a vê-lo depois de ressuscitado, conforme as Escrituras afirmam:

“Quando Jesus ressuscitou, na madrugada do primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena, de quem havia expulsado sete demônios.” (Marcos 16.9)

Nas palavras de Rodrigo Silva, Maria Madalena viveu uma história fantástica. “Uma mulher de fibra, que soube o que era viver e andar com seu Salvador. De Magdala para a Bíblia, da Bíblia para as páginas da história e da história para a eternidade”.

E esse foi o estudo desta semana. Espero ter tirado sua dúvida e também colaborado para seu crescimento espiritual. Beijo no coração e até a próxima, se Deus quiser!

Por Cris Beloni, jornalista cristã, pesquisadora e escritora. Lidera o movimento Bíblia Investigada e ajuda as pessoas no entendimento bíblico, na organização de ideias e na ativação de seus dons. Trabalha com missões transculturais, Igreja Perseguida, teorias científicas, escatologia e análise de textos bíblicos.

*O conteúdo do texto acima é de colaboração voluntária, seu teor é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

Leia o artigo anterior: Jesus disse: “Não é certo tirar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos”

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