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PT quer criar secretaria de assuntos religiosos visando “pequenas igrejas”


PT quer criar secretaria de assuntos religiosos visando "pequenas igrejas"

Igrejas evangélicas de ‘pequeno porte’ estão na mira do futuro governo petista para se tornarem aliadas e parceiras na administração do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Segundo informa O Globo, aliados de Lula defendem que o futuro governo construa canais próprios de diálogo com lideranças evangélicas, segmento que apoiou majoritariamente a candidatura de Jair Bolsonaro (PL).

A proposta foi apresentada por representantes do PT e por pastores que colaboraram com a campanha de Lula. A ideia é criar uma secretaria de assuntos religiosos, vinculada a um ministério voltado para assistência social ou direitos humanos.

Existe ainda a ideia de fomentar uma espécie de federação de igrejas independentes para driblar a dependência de pastores das maiores denominações, diz o jornal carioca.

‘Escola de pastores’

O Pr. Paulo Marcelo Schallenberger, que foi escanteado pela Assembleia de Deus do Belém (SP) por apoiar Lula, defende uma extensão ministerial para “dialogar com líderes simples e anônimos”.

Schallenberger também pretende incentivar, numa iniciativa à parte do governo, a criação de uma “escola de pastores” e uma federação de “igrejas independentes”, que dê peso representativo a denominações menores:

“Essas igrejas já estão ajudando o Estado a ressocializar presos, a livrar pessoas das drogas, e podem receber melhores condições e recursos para isso. E a secretaria poderia ter interlocução direta com essa federação, sem precisar passar pelos ‘grandões’”, diz.

‘Conselhão’

Ainda para trazer os evangélicos para perto, também foi aventada a possibilidade reativar o extinto “Conselhão”, defendido pela deputada Benedita da Silva, que é evangélica.

O ex-ministro Gilberto Carvalho tem colocado a reestruturação da relação com igrejas como um dos principais temas do futuro governo. O petista foi um dos principais nomes da interlocução da campanha de Lula com religiosos e articulador da carta aos evangélicos.

No dia seguinte à vitória de Lula, Carvalho declarou ao podcast Três por Quatro, do site Brasil de Fato, que será preciso “sinalizar com clareza” e ter uma “ação abrangente” com os evangélicos, e considerou o segmento crucial para “reconstruir uma ampla base popular de governo” e chegar à população mais pobre, “que está sendo cuidada pelas igrejas”. Para Carvalho, o foco deve estar “nas pequenas igrejas, que são as que mais crescem”.

De acordo com a série Salto Evangélico, publicada em setembro pelo O GLOBO, existem pelo menos 78,5 mil igrejas evangélicas “diversas”, que não pertencem a nenhuma grande denominação, por vezes compostas por uma dezena de templos ou menos. O número é quase o dobro dos 43 mil templos da Assembleia de Deus, maior rede de igrejas do país.

Grandes lideranças

Na mesma entrevista, Carvalho criticou a postura de grandes lideranças, como o bispo Edir Macedo, fundador da Igreja Universal, a quem chamou de “useiro e vezeiro em enviar seus representantes ao Planalto” para negociar apoio nos governos Lula e Dilma. “Erramos em atendê-lo e esquecer a base”, disse o ex-ministro.

Presidente do PT, Gleisi Hoffmann criticou suposta declaração feita por Macedo dizendo que perdoa Lula. A petista afirmou que o líder da Universal “é quem precisa pedir perdão pelas barbaridades (ditas) sobre Lula”.

Conforme a reportagem, além de Schallenberger, o bispo Romualdo Panceiro, ex-integrante da Universal e que rompeu com Macedo em 2020, endossa a ideia de uma secretaria de assuntos religiosos.

“Quando houve o chute em Nossa Senhora Aparecida por um ex-bispo da Universal (em 1995), eu representava a igreja no México, onde havia uma secretaria desse tipo, e fui chamado ao governo porque queriam entender o que tinha ocorrido. Um secretário de assuntos religiosos seria um porta-voz do presidente para todas as religiões, e alguém que poderia assegurar a liberdade religiosa de acordo com o que prevê a lei”, afirma Panceiro.

Liberdade religiosa

Com modelo em gestões do PT em municípios, órgão ficaria responsável pela interface entre governo federal e igrejas e por assegurar liberdade religiosa. A ideia vem sendo gestada por lideranças do partido e pastores que apoiaram Lula.

Em entrevista ao GLOBO, o prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT), um dos coordenadores da campanha de Lula, disse que é “plenamente possível” fazer parcerias com igrejas, por exemplo, no atendimento à população em vulnerabilidade.

Em Maricá (RJ), a gestão do ex-prefeito e deputado eleito Washington Quaquá (PT) teve um pastor da Assembleia de Deus como secretário de assuntos religiosos.

“Quem comandar a área social do governo precisa trazer as igrejas para participar do projeto de país”, diz Quaquá.

Nos governos Lula e Dilma, os evangélicos ficaram à frente de pastas como a Pesca e do Esporte, sem relação direta com agendas caras às igrejas. Na gestão Bolsonaro, pastores ascenderam a ministérios como da Educação, com o presbiteriano Milton Ribeiro, e dos Direitos Humanos, com Damares Alves.

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