Quando Deus muda o placar do jogo
Atos dos Apóstolos é o livro que trata das grandes intervenções de Deus na vida da igreja. O extraordinário de Deus acontecia no ordinário da vida dos cristãos. Conversões abundantes, curas milagrosas e libertações inusitadas faziam parte da agenda da igreja. Apesar da oposição das autoridades religiosas e políticas, a igreja avançava com redobrado entusiasmo.
A igreja estava para dar um passo decisivo de expansão, quando o Rei Herodes Agripa I, para agradar aos judeus, passou ao fio da espada o apóstolo Tiago, irmão de João e mandou prender Pedro, num cárcere de segurança máxima. A morte de Tiago e a prisão de Pedro eram uma clara evidência de que inimigos se unem quando se trata de perseguir a igreja. Os judeus não gostavam de Herodes, seja pela sua origem edumeia ou pela sua cultura romana. Porém, sem qualquer escrúpulo se mancomunaram para derramar sangue e oprimir a igreja cristã. A situação era sombria. O poder eclesiástico e o poder político dominavam o pesado ambiente de perseguição. Apesar dessa providência carrancuda, porém, a igreja se pôs a orar a Deus em favor de Pedro.
É digno de destaque que a oração é o recurso mais poderoso neste mundo. Quando os joelhos se dobram na terra, o braço onipotente de Deus é acionado no céu. A oração une a fraqueza humana à onipotência divina. A oração conecta o altar da terra com o trono do céu. Quando a igreja ora, o céu se move, o inferno treme e coisas extraordinárias acontecem na terra.
Herodes Agripa I parecia supremo no controle da situação. Pedro estava algemado, sob quatro escoltas de quatro soldados cada uma. Humanamente era impossível ao pescador galileu evadir-se dessa prisão de segurança máxima. Nenhum poder religioso ou político estava a seu favor. Porém, a igreja estava em oração por ele. Então, Deus vira a mesa da história e muda o placar do jogo. O Senhor enviou um anjo até à prisão na última noite, antes da execução de Pedro. Ele estava dormindo. O anjo acordou-o. Deu ordens para ele se colocar em pé e vestir-se. O anjo acordou Pedro e fez os guardas dormirem. Tirou as algemas de Pedro e conduziu-o para fora da prisão bem debaixo do nariz dos guardas sem que eles nada vissem. Pedro foi poupado da morte e os guardas justiçados. Pedro viveu e os guardas morreram.
Longe do vento da perseguição intimidar Pedro e pôr um ponto final em seu ministério, levou-o para novos horizontes, ampliando o seu trabalho missionário. A perseguição nunca paralisou a igreja. Prisões, açoites, feras e fornalhas jamais destruíram a igreja. As portas do inferno não podem prevalecer contra a igreja de Cristo. A igreja acuada é, agora, a igreja mais despertada. O apóstolo prisioneiro é agora um missionário que cruza a fronteira e vai espargir a luz do evangelho em terras mais longínquas. Os inimigos queriam calar a voz da igreja, mas a palavra do Senhor crescia e se multiplicava.
Herodes desceu a Cesareia e foi aplaudido como um deus pelos moradores de Tiro e Sidom. Porque aceitou uma bajulação blasfema, o Senhor enviou um anjo para feri-lo e comido de vermes, expirou. O opressor morre, o oprimido fica livre. Quem estava para morrer, viveu; quem estava vivo, foi ceifado pela morte. Um anjo liberta Pedro das algemas; outro anjo coloca as algemas da morte em Herodes. Deus vira o placar do jogo e a igreja avançou ainda mais, pois Barnabé e Saulo que estavam em Jerusalém nesse tempo, voltam para Antioquia da Síria, levando o jovem João Marcos, para dar início às viagens missionárias pelas províncias da Galácia, Macedônia, Acaia e Ásia Menor. Em vez da igreja fechar as portas por causa da perseguição, a igreja alargou as suas portas, avançou corajosamente, empunhando o estandarte do evangelho nas longínquas províncias do império romano e chegou até Roma. Ninguém pode deter a igreja de Cristo. Nem fogo nem feras, nem prisões nem açoites. Em três séculos, o Cristianismo tornou-se a religião oficial do império romano. Deus mudou o placar do jogo!
Hernandes Dias Lopes é pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, escritor, membro da Academia Evangélica de Letras do Brasil e diretor executivo da Editora Luz para o Caminho.
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